Desvendando a Marca da Besta
I - Introdução
Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é
o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis.
(Guilyana/Apocalipse 13:18)
O verso acima tem sido motivo de muita controvérsia ao longo dos séculos. Inúmeras
tentativas mirabolantes já foram feitas para explicá-lo, fazendo os cálculos mais variados,
nos mais diversos idiomas (especialmente o latim).
Porém, não devemos nos esquecer que Yochanan (João) era um judeu, e que portanto sua
forma de pensar era completamente semita. Para entendermos corretamente a mensagem
de Yochanan, é preciso interpretar as Escrituras como um judeu do primeiro século.
II - Análise Textual
Na forma semita de interpretação das Escrituras, utilizando o sistema PaRDeS (vide
artigo sobre como interpretar as Escrituras como um judeu), existem 4 formas de
interpretação: Pshat, Remez, Drash e Sod. Utilizaremos aqui todas essas formas para
podermos entender a mensagem de Yochanan.
III - O Contexto: Pshat e Remez
Evidentemente, pelo contexto de Guilyana (Apocalipse), a besta é associada a um reino
cujo domínio se estende por todo o mundo. Isso fica bastante evidente pela autoridade
sobre o comércio, explicitada no verso 15:
Foi-lhe concedido também dar fôlego à imagem da besta, para que a imagem da besta
falasse, e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem da
besta.(Guilyana/Apocalipse 13:15)
Lembrando que a divisão de capítulos foi feita artificialmente muito tempo depois, e que
muitas vezes uma mudança de capítulos não significa uma mudança de assunto, vemos
que o próprio Yochanan esclarece que Reino é esse, o qual aparece em conexão com a
besta e a sua marca:
Um segundo anjo o seguiu, dizendo: Caiu, caiu a grande Bavel, que a todas as nações
deu a beber do vinho da ira da sua prostituição. Seguiu-os ainda um terceiro anjo,
dizendo com grande voz: Se alguém adorar a besta, e a sua imagem, e receber o sinal na
fronte, ou na mão, (Guilyana/Apocalipse 14:8-9)
É quase que consenso entre os estudiosos que a referência a Bavel aqui seja uma forma
indireta que Yochanan tinha de indicar Roma. Isso se torna evidente quando lemos o
relato de Guiliyana (Apocalipse) 18:9-21. Lembremos que o texto foi escrito por
Yochanan para um público do primeiro século. Quem é que esse público identificaria
como o centro do poder (18:9-10), do mercantilismo (18:11-13) e da riqueza (18:14-15)?
E quem perseguia os santos, emissários e profetas de Yeshua (18:20)? A resposta é bem
evidente: o Império Romano!
Reparem ainda que existe uma conexão entre a besta e o seu reino, feita através da
palavra prostituição. No Tanach, essa palavra, quando em conexão com um povo/reino
(especialmente as Casas de Israel), é sempre usada como sinônimo do abandono dos
caminhos e da Torá de YHWH, para cair na rebeldia e na desobediência. Em Hoshea
(Oséias), chegamos a ver que é justamente o espírito de prostituição (ie. negação da Tora)
que impede a Efrayim de fazer teshuvá (vide Hoshea 5:4).
Portanto, o reinado de Bavel (Roma) é um reinado de rebeldia para com a Torá de
YHWH. Mas onde entra a conexão com a besta? Rav. Shaul (Paulo) identifica a besta
como sendo o homem que se opõe à Torá" (anomia), que é justamente o que representa
a prostituição:
Ninguém de modo algum vos engane; porque isto não acontecerá sem que venha
primeiro a apostasia e seja revelado o homem contrário à Torá, o filho da perdição, (2
Tess. 2:3)
Portanto, a besta e seu reino têm como propósito deturpar a Torá e os desígnios de
YHWH.
Portanto, em uma análise simples do contexto (Pshat) vemos que a marca da besta tem
conexão com Bavel, o qual implicitamente (Remez) se refere a Roma.
IV - A Guematria: Sod
O texto nos diz para calcularmos o número da besta. Isto pressupõe o uso da guematria,
técnica em que números são associados a palavras, visto que o Alef-Beit (alfabeto
hebraico) possui valores numéricos para cada letra. O grande erro da maioria das pessoas
é tentarem fazer o cálculo com base no alfabeto latino, quando claramente Yochanan
(João), como judeu, utilizou a guematria hebraica.
Já vimos anteriormente que a besta é um homem, e que há uma conexão evidente com
Roma. Ou seja, um romano. Curiosamente, analisemos a palavra Romano no hebraico,
à luz da guematria:
Romiti (romano, em hebraico)
Letra Translit. Valor na Guematria Simples
Reish 200
Vav 6
Mem 40
Yud 10
Tav 400
Yud 10
Total: 666
Aqui temos uma conclusão sólida, não baseada em teorias conspiratórias, mas no próprio
contexto de Guilyana, com base na Guematria (Sod)
V - A Dica de Yochanan: Remez e Sod
Yochanan diz que o número da besta é o número do homem. O que significa isso no
pensamento semita? Dentro do Judaísmo, o número 6 é tido como o número do homem,
e fica bem claro aqui que é essa a alusão que Yochanan faz.
Mas por que número do homem? E o que significa?
- O número 6 é o número do dia em que o homem foi criado
- Ao homem foram apontados 6 milênios antes da Era Messiânica
- O homem trabalha 6 dias, e depois vem o Shabat
Enfim, o número do homem representa algo que é mundano, em oposição a algo que é
santo. Tradicionalmente, o número 6 também é associado à palavra hebraica Sheker
(mentira), pois a soma dos algarismos (desconsiderando dezenas) da palavra sheker é 6.
Letra Translit. Guematria do Primeiro Algarismo
Shin 3
Kuf 1
Reish 2
Total: 6
Portanto, o número 6 é associado àquilo que é mundano ou falso algo que vem do
homem, ao invés de YHWH. Dentro do contexto de Guilyana (Apocalipse), podemos
dizer que se trata de um engano, uma fabricação humana em oposição à verdade de
YHWH. A repetição trina do número 6 expressa uma ênfase neste fato, mostrando que é
algo que deve ser levado fortemente em consideração.
VI - Examinando o Tanach: Drash
Um fato que é praticamente ignorado é o de que não é apenas em Guilyana (Apocalipse)
que o número 666 aparece. Na realidade, há dois momentos em que ele aparece no
Tanach (Primeiro Testamento). Lamentavelmente, a maioria dos estudos acerca da marca
desconsideram essa informação, quando na realidade ela é essencial. É inegável que
Yochanan (João) tivesse bom conhecimento do Tanach, e soubesse que os leitores de
Guilyana (Apocalipse) também estariam familiarizados com essas duas passagens. Na
realidade, quando Yochanan cita a necessidade de sabedoria para o entendimento do
número da besta, faz uma referência à necessidade de se fazer um drash, buscando as
Escrituras para poder entender as próprias Escrituras.
Para fazermos este drash, mantenhamos em mente a informação de que o número da
besta é o número do homem, e portanto refere-se a uma construção humana/mundana,
algo mentiroso (sheker) e maligno.
A primeira passagem em que encontramos 666 em em Divrei HaYamim Beit (2
Crônicas) 9:13, que diz:
Ora, o peso do ouro que se trazia cada ano a Shlomo era de seiscentos e sessenta e seis
talentos.
Ora, é inevitável estabelecer uma relação entre Shlomo e a besta através do número 666.
Mas que relação seria essa? É simples: Quem foi Shlomo? Foi o Filho de David, herdeiro
do trono e rei de Israel.
Portanto, podemos aqui dizer que o número da besta simboliza que a besta alega ser
como Shlomo, ou seja, ser filho de David, herdeiro do trono, e rei de Israel.
Mantenhamos em mente, porém, que se trata de uma mentira maligna, e não algo de fato
e de direito.
A segunda passagem em que encontramos 666 é em Ezra 2:13 que diz:
Os filhos de Adonikam, seiscentos e sessenta e seis.
Aqui, podemos estabelecer um drash conectando os filhos de Adonikam com o número
da besta. Mas, qual a conexão? Ora, os filhos/seguidores da besta são como os filhos de
Adonikam. Mas o que significa Adonikam no hebraico? Adonikam significa literalmente
Meu Senhor se levantou. Num nível sod de interpretação, podemos dizer que os filhos
da besta alegam que ele é o senhor que se levantou dos mortos.
VII - Conclusão
Juntando todos esses elementos, que são puramente bíblicos, acerca do número da besta,
temos uma impressionante revelação acerca de sua identidade: trata-se de uma grande
mentira/engano de um homem romano que alega ser filho de David (messias), rei de
Israel, ressuscitado dentre os mortos e cujos seguidores chamam de Senhor. Ou seja, a
besta é uma mentira criada por homens (e inspirada por Satan, evidentemente, pois ele
deu poder à besta para ser adorada), um homem romano que tenta se fazer passar por
Yeshua.
Se juntarmos a isso o fato de que Rav. Shaul (Paulo) o chama de homem que se opõe à
Torá (anomia), então vemos que a besta é o cristo romano, uma falsa versão antinom
ínia do verdadeiro Messias Yeshua.
A marca da besta é portanto algo que identificará justamente esse personagem. Poderá ser
o seu nome, ou algo que o identifique (como a letra Qui, símbolo da palavra Cristo),
ou qualquer coisa do gênero. Esse é o ardil de Satan. A única forma de enganar a
humanidade e fazê-la aceitar tal marca é se a marca for um símbolo do falso salvador
romano.
Pare e reflita por um minuto: Quantas pessoas você conhece que alegremente receberiam
a marca de Jesus Cristo na sua testa ou mão?
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